A nova hermenêutica

A renovação do interesse pela hermenêutica bíblica tem sido estimulada por teólogos existencialistas, como Rudolf Bultmann e seus seguidores. Nomes associados a isso são Gerhard Ebelin, Ernest Fuchs e Martin Heidegger. Esses homens seguiam as idéias de Bultmann, embora as tivesse levado a extremos que ele não teria aprovado.

Heidegger enfatizava a importância da linguagem como algo anterior à humanidade, como um poder que teria moldado a compreensão dos homens. A própria existência humana seria definida linguisticamente; e, através da linguagem, chegaríamos a entender o ser humano. A existência humana torna-se autêntica quando tem permissão de desempenhar o seu papel; e então chegamos a uma compreensão apropriada da mensagem que ela tenta comunicar. Isso posto, a linguagem seria Hermes, o mensageiro dos deuses. Por meio da ciência da hermenêutica, procuramos recapturar os eventos proferidos pelos profetas, extraindo dali o sentido que convém. Isso envolve mais do que entender o que um profeta qualquer tem a dizer, no contexto de sua própria época. Antes, devemos procurar penetrar no seu sentido, naquilo que significa hoje em dia, pois a verdade reveste-se de uma universalidade que é comunicada por meio da linguagem.

Jesus proferiu palavras imortais, aplicáveis em qualquer época. Não precisamos nos preocupar com toda a forma de questão cultural e histórica, a fim de entender a mensagem universal da alma, mas precisamos entrar na linguagem do coração, para que tenhamos uma perfeita compreensão das coisas. E também há uma linguagem da fé, que devemos esforçar-nos por entender. Verdadeiramente, parece que esses filósofos-teólogos acreditam que a linguagem reveste-se de alma qualidade mística, dotada de tesouros ocultos. A demitização pode ser uma tarefa infrutífera. A verdadeira hermenêutica tem a tarefa de compreender de que modo o Evangelho de Cristo aplica-se ao homem moderno. Há nisso uma fé de que o evangelho, verdadeiramente, dirige aos homens uma mensagem universal, mensagem essa que pode ser determinada.

A nova hermenêutica não ignora a erudição histórica e crítica os eruditos do século XIX. Porém, apronta para uma tarefa idêntica à do pregador. Há uma mensagem a ser comunicada que é mais importante do que o manuseio crítico de um texto qualquer. A erudição, quando muito, leva-nos somente ao limiar da interpretação. A partir desse ponto, o Espírito, que fala através da linguagem, deve receber a permissão de levar-nos a profundezas maiores. A mensagem pode ficar aprisionada em um texto; e precisa ser liberada. A tarefa da hermenêutica e da pregação, portanto, é a libertação. Uma vez liberada, a mensagem pode nos transformar. Dentro dessa interpretação, encontramos o casamento entre a interpretação e o dogma; e o dogma torna-se uma verdade viva que nos transforma, não se limitando a ser apenas uma criança credal. A erudição histórico-crítica, pois, torna-se uma serva da hermenêutica, e não a própria substância da mesma.



Prof. Ronaldo Gomes, 'Hermeneutica'.

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